domingo, 7 de dezembro de 2008

PRIMA... MINHA DEUSA!

DEZEMBRO/1977
O Natal se foi e a gente prepara-se para comemorar o Ano Novo.
Acho que é chegada a hora do exame de consciência. Talvez a lembrança do ano que começa a agonizar fosse bastante para formar dois pratos de balança. De um lado o crédito, do outro o haver.
Se houver um mínimo de equilíbrio, confesso que deveria dar-me por muito feliz, mas sou um pouco mais pretensioso e uso contra mim a frustração de sonhos irrealizados.
O que era eu há um ano? O que sonhava e pretendia trezentos e tantos dias atrás? O que aconteceu para modificar ou mudar meus sonhos? O que consegui? O que quiseram obrigar-me a desistir? O que releguei a segundo plano porque no meio do caminho compreendi que não era tão importante quanto parecia ser?
Particularmente lembro muito bem do que sentia por você há um ano atrás.
Aprendi a respeitá-la profundamente quando olhava-a nos olhos e via sua coragem,força e resistência. Confesso que rezei muito para que surgisse um milagre,um milagre de amor em todos que direta ou indiretamente estavam ligados a nós dois. Achava que era o meu milagre, aquele a que tinha direito.
As vezes chorávamos juntos. Ninguém nos viu nunca nesse transe nada bom. Nossos rostos eram uma espécie de radiografia, revelando-nos a força do nosso relacionamento, mas logo nos propúnhamos, baseados na força que emanava de nossos corações, a copiar um o sorriso confiante do outro.
E sorrisos esperançosos. Por essas e tantas outras razões acho importante fazermos um balanço da própria vida, sem testemunhas de acusação ou defesa.
Um balanço solitário de quem só tem contas a ajustar consigo mesmo. Nessa hora, convém pensar com cuidado e carinho nos nossos planos, sem grandes exigências mas também sem grandes desistências tentando agradecer, ainda que em silêncio, o que recebemos de bom um do outro, e tentar mudar o que não nos satisfez.
Não devemos esquecer nunca que na luta diária pela vida, tudo tem jeito, que somos capazes sim, que enquanto estivermos vivos poderemos lutar, sonhar, brigar e amar. Não devemos esquecer que a gente se perdoa muito mais pelo que fez do que por aquilo que não fez. O não fazer é a inércia, é a incapacidade, é o vazio, é a carência.
Algo também preciso acrescentar a este balanço de 1977: VOCÊ!
Você que ensinou-me que o importante não é ser contra e sim saber persistir na busca pela realização dos sonhos, uma vez que eles, os sonhos, antecedem a realidade. Você ensinou-me a grandeza das coisas simples e a não dar ouvidos aos que propagam a nulidade da vida, da realidade, da liberdade e do amor.
Você ensinou-me que o homem precisa do riso, como a criança precisa do afago, precisa da emoção, como o orvalho precisa da pétala.
Sem sombra de dúvida, a você PRIMA, devo a descoberta da ternura e do amor.
Gostaria que o mundo inteiro pudesse ouvir, como um trovão de flores e sorrisos que você ensinou-me a segurar de levinho e com ternura seu queixo amado, como quem faz taça de um rosto muito querido, e nele gravei a certeza limpa do meu afeto.
Devo ainda a você, minha eterna perseguida, a arte de saber quando é preciso rir e quando é preciso contar com a imaginação para safar-se do apuro, do rival amoroso, do forte, do bruto e da repressão.
Você, meu amor, talvez sem saber, ensinou-me a não desprezar a vacilação dos mais fortes, a vaidade deles, o seu empanturramento ou o seu arroto de importância.
Ensinou-me que esse tipo de gente tem na chatura de em suas vidas, o sono e o tédio.
Você ensinou-me PRIMA, a crer no amor, ainda que a amada não venha ou não volte. Ensinou-me a olhar para você com sentimento sentido do amor amado, do desejo desejado, da entrega entregue, e do coração aos pulos na hora de olhar. Você ensinou-me a gostar muito das pessoas que estão do outro lado e eu aprendi por tudo isso a amá-la e cuidá-la.
PRIMA, meu amorzinho, sei de sua necessidade de ser amada com atenção, adesão, tensão e entrega. Até isso aprendi com você!.
Aprendi também a não temer a própria emoção. Mais do que isso, aprendi a fazê-la comum e se possível bela.
Feliz Ano Novo e que a meia-noite do dia 31 traga um ano bom, repleto de ternura para todos nós.
Que Deus permita completar-mos em 1978 o elo de felicidade que iniciamos em 1977 com paz,carinho e muito amor.

1977

O especial da Fafá de Belém acabou. Restou uma imensa recordação de um passado não tão distante.
A vontade de tê-la a meu lado leva-me a janela e minha visão sensorial elevou-se aos grandes espíritos, rebuscando com coragem todo o tempo deste relacionamento incompleto por força de circunstancias tão secas como um corpo sem alma.
Revia nosso bem querer correndo com a alma virgem, quando ainda eram virgens as oposições de agora depois a chegada das tentativas de subjugar nossos sentimentos com todas as armas. Mal sabem que não há como subjugar um amor sincero e bravo.
Nem ferro, nem fogo, nem chibatada subjuga o sonho mais lúcido do espírito, que é o amor e a liberdade.
Liberdade que ninguém pode nos negar, para sermos caminheiros em busca de luz, da síntese do amor e do tempo.
Não se prende o espírito, nem o espírito se apaga quando retém mesmo que inconscientemente a chama geradora da civilidade. É uma questão de respeito ao amor, a você DEUSA inspiradora desse amor e a mim mesmo, pela honra e pelo desejo de ser livre.
Não há como escravizar espontâneamente no fervor do binómio fé e amor.
Hoje vivemos num mundo limitado em fundamentos de alguns. Para mim o homem que vive calcado nos seus fundamentos de origem se corrompe, se vicia.
Já é tarde... Muito tarde. Todos eles dormem um sono sem o repouso das almas. Um sono lamentável sem cor, sem brilho e sem canto.
Agora vou dormir mas meu sono é diferente... Ele é sonhador e sublime como meus anseios. Meu sono tem clareza, mais cor, mais brilho. Meu sono tem um canto que convoca para o amor uma gente que se amesquinhou no aviltrante trabalho de mãos secas e de almas sem esperança, de pele encardida e presos a labuta do não dignificar existências.
Amor, perdoe o desabafo, ele estava preso em meu coração e de repente saiu num momento de distração. Saiba que muitíssimas coisas nos unem para sempre. Uma coisa porém se sobressai como se fosse nosso contorno definitivo: O AMOR!

10/11/1976

Descobri que as restrições são tão frias quanto absurdas, embora sejam uma realidade.
Acredito muito em 1977. O que sinto por você PRIMA, é maravilhoso e as restrições que nos atingem servem de lastro para o futuro, seja ele qual for.
Hoje aposto nele, no futuro,imaginando um mundo como gostaríamos que fosse para todos,sem naturalmente renegar o passado que por não ter sido nada agradável serve como um espelho a lembrar-me onde terminou o ruim e começou o bom.
Esta tomada de posição contraria um certo número de pessoas, sei disso. Não sei pelo menos agora, é como conseguir mudar esse estado de coisas.
Como gostaria que essas mesmas pessoas pudessem estar no meu âmago para ver e vendo sentir a grandeza desse sentimento nascido sem berço e até certo ponto pagão até agora.
Sinto que é preciso muito amor para eliminar as objeções. Esse amor eu possuo e por isso estou tranquilo e em paz, projetando uma nova vida repleta de alegrias.
Para meus amigos, os que convivem comigo em ideias, o fato de estar finalmente amando com tanto carinho, foi uma alegria, já para a outra parte, também de amigos, admito que foi um choque. Infelizmente um terrível choque!
Você sabe que estou muito seguro de mim mesmo e que as pressões, veladas ou não, muito pouco podem alterar o rumo do que em boa hora me propus.
Sofro mais por você que tomou uma decisão e se inquieta aos argumentos contrários,sofro por saber que existem pessoas que vivem no século passado, pensando no que fariam avós e tataravós!
Não sei, mas acho que eu sou o certo neste caso. Ninguém se casa ou admite uma vida de casado com o vértice para um ou vários títulos, mas casa-se ou vive-se como pessoas. Eu sou, nós somos, simplesmente pessoas!
Os opositores de nossa união, simplesmente esqueceram de nos perguntar uma única coisa: Vocês se sentem felizes?

PRIMO & PRIMA

CRIEI ESTE BLOG PARA PUBLICAR, DEPOIS DE TRINTA E TRÊS ANOS AS CARTAS DE UM HOMEM QUARENTÃO QUE APAIXONOU-SE PERDIDAMENTE POR UMA MENINA DE DEZOITO ANOS E QUE MESMO NO SEU LEITO DE MORTE LEMBROU-SE DELA.
NÃO VOU CITAR NOMES, VOU CHAMÁ-LOS APENAS DE...
PRIMO & PRIMA